quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sobre um romance que tive.


O coração vinha a boca, a mão suava, garganta seca.Me sentia ridículo, estúpido. O amor deixa a gente ridículo e estúpido. Alguém quer contestar? A cada encontro "ocasional" nosso por mim premeditado, todas essas sensações invariavelmente se repetiam.

E foi num desses encontros premeditadamente ocasionais que o convidei para ir a minha casa. Coração na porta da boca, mãos suadas,garganta seca... O tempo parecia andar em slown motion. "Merda, ele vai dizer não, vai inventar alguma desculpa", pensei. Foi um "tudo bem" que ele me respondeu. Um "tudo bem" despreocupado e calmo.Garganta seca, mãos suadas, coração na boca... e agora? "Merda, ele aceitou". A resposta positiva só fizeram com que os sintomas da "paixonite aguda" se agravassem. Sentia os músculos se flexionarem, as pernas bambearem... Novos sintomas. O amor é uma doença crônica.Resolvi relaxar e me entregar as sensações. Pronto, eu era somente sensações, estava a flor da pele, entregue aquele romance que eu não sabia onde podia me levar. -Mentira, eu sabia. Só não me importava com aquilo no exato momento.- Eu era apenas sensações, irracional.

Ao adiantado da hora, marcado no dia do encontro, as minhas mãos suavam, o coração se encontrava atolado na minha garganta que já estava totalmente seca. Eu me sentia completamente estúpido e ridículo. Bem, só até a a campainha tocar. -Mentira. Ele gritou, meu interfone estava quebrado.- Após aquele toque eu era pura sensações, estava a flor da epiderme.

Tudo muito infantil. Os olhares, o sorriso bobo, os gestos. Nunca senti que um sofá fosse tão grande. Parecia que tinha toda uma avenida nos separando. E fomos nos aproximando. Perto, mais perto, ainda mais perto. Deitei minha cabeça no ombro dele. Sua respiração era gostosa. Eu erguia meus olhos, ele me observava, nossos olhos se encontravam, a luz dos olhos meus na luz dos olhos dele, como escreveu Vinicius.

Levantei, coloquei minha mão em seu rosto, contemplei seu belo sorriso e lancei minha boca na direção da dele. Nos beijamos. Um beijo bom, daqueles apaixonados e com um leve sabor de café no final. Passadas horas que mais pareceram minutos que se atropelavam, a despedida: "Tchau", eu disse. Com um expressão um tanto indignada na face, ele retrucou: "Tchau nada, até logo". Meus olhos brilhavam. Era esperança de uma mudança devastadora e excitante que poderia atingir a minha vida.

Os dias que se seguiram foram de puro gozo e alegria. Ele reacendeu em mim a chama que há muito havia se apagado, fez com que minha vida recuperasse o sentido e eu voltasse a sorrir toda vez que abrisse a janela para receber os raios de sol do novo dia que me convidava para sair de casa e ser feliz mais um tantinho. A vida não podia ser mais prazerosa.

Bem... Mentira! Isso não aconteceu. Isso era o que deveria ter acontecido, mas você sabe que finais felizes só existem em filmes que insistimos em ver para comparar com as nossas vidas reais e perceber como somos infelizes pois não temos um romance ideal. Eu vou contar a vocês o final como foi de verdade, o final que ecoa nas vidas fora dos setes de filmagem:

Os dias que se seguiram foram de puro ardor agonizante no peito. Ele apagou em mim o último resquício de chama que há muito eu tentava manter acesa, fez com que a vida perdesse o pouco de sentido que ainda conseguia atribuir. Fez com que eu fechasse as janelas para não entrar os raios de sol do novo dia que me repelia e me fazia querer continuar na cama. A vida não podia ser mais desgastante. Era como aqueles maridos que saiam de casa com a desculpa de ir buscar um fósforo e nunca mais voltavam.

6 comentários:

  1. OMFG!!!!
    só g-suis pra tomar conta...

    abraços
    voy

    ResponderExcluir
  2. Murillo, que texto maravilhoso!!

    Vivo, trepidante e verdadeiro. Eu amei, amei "os dias que se seguiram foram de puro gozo e alegria", e a vida seria uma mentira feito romances e contos de fada.

    "O amor impossível é o verdadeiro amor. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam".

    Um beijo!!

    ResponderExcluir
  3. Boa noite, enquanto "vagava" pela internet achei teu blog.
    Gostei do texto, prende a atenção e é bem escrito =)
    Realmente, o amor nos deixa ridículo e eu acho mesmo q ele deva ser uma doença. Não contesto.

    Segue o meu tb 0/

    ResponderExcluir
  4. sabe, sou apaixonada por vc (:
    seu texto esta lindo, maravilhoso.
    estou mega orgulhosa em ter vc como amigo ^^

    ResponderExcluir
  5. Adoro textos com ritmos quebrados. Achei que o seu tem uma estrutura meio mangá, aquelas histórias japonesas. O amor é uma questão bastante complicada numa sociedade extremamente competitiva. Abrir a guarda é perigoso demais.

    Seguimos em frente, derramando aqui e ali umas gotas de poesia, vivendo amores de novela e lendo romances nas horas vagas.

    Nunca desista. A busca é o objetivo. Esse Vinícius de Morais que você cita foi um dos mais mulherengos que se tem notícia. Se nem ele conseguiu ser feliz pro resto da vida, que será e nós.

    ResponderExcluir
  6. Que texto LINDO! Me fez sentir como os personagens,rs

    Muito bom *-*

    ResponderExcluir