quarta-feira, 20 de abril de 2011

Onde você guarda o seu racismo?


Ontem a noite me surpreendi em uma atitude bastante preconceituosa. Me senti estranho ao constatar que apesar da luta que travo  contra o preconceito, seja com meus textos no blog, seja em discussão com os amigos, eu guardo dentro de mim alguns preconceitos. Mas o primeiro passo para a cura do problema, é a aceitação. E aceitei ontem  que há preconceito ainda em mim.

Fui convidado por alguns amigos pata sair de casa à procura de diversão pela cidade.Noite fria, não muito convidativa, mesmo assim  aceitei o convite, sempre me vem a mesma frase na cabeça:"Nada de extraordinário vai acontecer se eu ficar em casa, mas lá fora pode ter algo que surpreenda". O encontro com os amigos foi divertido, animado e tranquilo. Antes que eu virasse abóbora, resolvi ir para casa.Por volta da meia noite caminhei na direção da minha casa com uma amiga. Chegando lá, ela ligou para um táxi vir buscá-la. A noite estava fria, mas com céu aberto e estrelado.Optamos por esperar o táxi  sentados na porta do prédio onde moro.

Noites frias e estreladas sempre nos convidam a falar de coisas do coração. E lá estávamos nós expondo nossas perdas e ganhos no campo afetivo. Era mais de 00:30 quando fomos abordados por um senhor branco, de olhos azuis e bem vestido, naquela rua já vazia. Antes de sua abordagem já estava observando-o descer a rua, mas não me incomodei mesmo percebendo que estava vindo em nossa direção. O senhor disse com um forte sotaque sulista:


- Boa noite. Sei que não é uma hora muito adequada para abordar pessoas no meio da rua, mas é que eu não sou daqui, trabalho na Caixa e meu cartão foi clonado. Estou sem dinheiro nem para comer, será que vocês podem me dar 2 reais pr'eu comprar um salgado lá em cima?


Sem muito refletir abri a carteira e minha amiga mexeu na bolsa para ver se encontrávamos dinheiro. Encontrei a nota e o entreguei. Ele agradeceu e subiu a rua. Imediatamente depois  que aquele senhor nos deixou comecei a refletir sobre minha atitude. Geralmente não entrego dinheiro as pessoas que me pedem na rua porque sempre desconfio que elas vão fazer mal uso desse dinheiro,que estão mentindo ( e isso na maioria das vezes eu consigo comprovar ). Me questionei também porque não me assustei ao ver um homem descendo a rua vazia naquela hora da noite vindo ao meu encontro. Certamente em outras situações eu ficaria apreensivo. Ele podia ser um ladrão, alguém mal intencionado. Depois de pensar um pouco mais descobri que não tive a reação que seria a de costume porque me deixei enganar pela cor de sua pele e pelas suas roupas. Senti vergonha de mim mesmo.

Pouca importa para mim agora se ele estava mentindo ou não, se ele estava bem intencionado ou não. O que me incomoda foram as minhas atitudes diante do homem loiro de olhos azuis e bem vestido. Certamente se fosse uma pessoa negra ou parda  e vestida de forma mais humilde eu teria sentido medo de ser assaltado ou coisa parecida. Não sei se por uma questão cultural, não sei, mas ainda não consegui me livrar desse estigma social. E essa foi uma atitude que me preocupou bastante. Não por não ter desconfiado desse senhor, obviamente que não, mas por ter uma visão marginalizada dos mais pobres. Peço perdão por isso. Até porque sou pobre e pardo,né?

Esse trágico acontecimento me lembrou um vídeo muito bacana que vi certa vez no You Tube. Assistam. E vamos lutar juntos, por um mundo sem preconceito. Sem preconceito de qualquer tipo.


4 comentários:

  1. já tinha te dito pelo twitter q li o post e achei mto bom. ele mostra q tdo mundo tem preconceito, seja com uma coisa ou outra. seja uma coisa 'simples' ou algo mais estarrecedor...
    ngm é livre dele!
    e a gente começa a quebrar os preconceitos qdo expoe e toma consciencia que eles existem dentro de nos! é por ai q começamos...

    abraços do voy

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  2. Realmente, Lilo. Eu também sinto vergonha, pois já tive uma atitude dessas, semelhante à do seu relato. Mas o voy e você estão mais que certos, temos que admitir e sentir a vergonha por ainda carregar esse preconceito, e no mais, trabalhar para que ele se extinga do nosso ser. Quem dera que todas as pessoas refletissem onde guardam seu preconceito. O mundo seria um pouco melhor. Abração :)

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  3. Olá, tudo bem? Encontrei seu blog em um comentários do "Desilusões perdidas". Sua reflexão foi bem interessante. Eu acredito que agiria da mesma forma que vc, infelizmente nós que convivemos em sociedade acabamos adquirindo o costume da maioria, mesmo contra a própria vontade.

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  4. Se aquele teste do finalzinho do flme "O Auto da Compadecida" tivesse sido com a gente, a gente tinha se dado mal e renegado a Jesus, Lilo. HAHA

    Brincadeiras a parte, preconceito existe e mesmo quem já tem uma consciência mais favorável à quebra desse paradigma ainda corre o risco de cair numa dessas que a gente caiu.

    Infelizmente a gente vive nessa sociedade em que aprendemos que senhores brancos, bem vestidos e que falam de forma articulada (e até um pouquinho encantadora) inspira mais confiança mesmo.

    Mas um passo já estamos dando, ainda que seja pequeno. Estamos aqui refletindo sobre nossas atitudes e tentando entender porque fenômenos como esse acontecem, agora vamos aos poucos mudando essa consciência.

    P.s: Demorei horrores pra ligar o início do texto aos fatos. Sou lerda?! HAHA

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